quinta-feira, 24 de julho de 2008

Tempo Moderno...



O escritório estava em polvorosa: haviam lançado o melhor, o mais moderno, o mais rápido, o mais esplendoroso programa de informática. O que a gente fazia em mais de uma hora, agora seria feita em apenas um minuto. Todos estavam tão impressionados: “Oh, é a invenção do milênio”, “é o máximo, não?!”. Bem, pra mim, não!

Naquele ambiente eufórico, eu parecia a única calma e nada impressionada com tal lançamento. Mas que
merda de programa, hein! Se pelo menos ele fosse me ajudar a sair mais cedo... Mas não, quanto mais cedo termino o que tenho pra fazer, mais trabalho me dão. Será que ninguém pensou nisso não?

Na época dos meus avós não era assim. E eu não vou botar a culpa no capitalismo, a culpa é mesmo minha, sua, de todo mundo. A gente vive correndo, só não sei pra onde. Às vezes parece que a nossa geração nasceu com uns genes mutantes que deram origem a uma pressa estranha. A gente nasceu com o instinto de pegar sempre o primeiro metrô que estiver chegando, independente de quantas pessoas já estejam nele e quantas ainda estejam para entrar. Nasceu pra decorar a cor do ônibus, e com o tempo pegá-lo, sem mais, nem mesmo, ler o nome. Nasceu pra correr entre os trilhos do trem das cidades grandes. Tanta pressa, pra quê? Pra onde a gente corre tanto?

Eu, sinceramente, não sei. Ninguém deve saber. Sempre vai ter trabalho mesmo. E é sempre tudo igual. Também não sei porque a correria. Os metrôs sempre vão passar no mesmo horário, sempre vão estar com a mesma lotação e sempre vão correr nos mesmos trilhos. A minha casa sempre vai estar lá me esperando. Meus amigos, meus amores; é bem verdade que eu posso perdê-los a qualquer momento, mas a riscos todos nós estamos expostos, não posso viver correndo para vê-los.

Talvez a pressa já seja inerente a condição humana. Talvez isso seja resultado da nossa necessidade de ocupação integral do tempo, ou vice-versa. Talvez você ache essas suposições um tanto malucas, apesar de eu achá-las bem verdadeiras. Mas a grande questão é: pressa, pra onde?

Aí vieram me perguntar o que eu tinha achada do maravilhoso programa. Eu disse: “Ah, legal”. “Só isso? Tá louca, né?”. Eu, louca? Há-há-há. Só rindo mesmo. Eles é que tão comemorando porque vão trabalhar mais, e eu é que estou louca?
Oh, céus, esse mundo está perdido mesmo!

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